Você já deve ter se deparado com essa questão. Sendo Deus um ser inteiramente bom e poderoso, como é possível que exista o mal? Por que existe tanto sofrimento no mundo?
Tanto na Teologia quanta na Filosofia chamamos essa questão de o “Problema do Mal”.
A Bíblia é categórica em afirmar que Deus é um ser inteiramente Bom: Quem não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor (1 João 4:8). O Senhor é justo em todos os seus caminhos e bondoso em tudo o que faz (Salmos 145:17). Esta é a mensagem que dele ouvimos e transmitimos a vocês: Deus é luz; nele não há treva alguma (1 João 1:5).
Também temos afirmações de que Deus é o “Todo Poderoso”: Com mão poderosa e braço forte. O seu amor dura para sempre (Salmos 136:12). Sua sabedoria é profunda, seu poder é imenso. Quem tentou resistir-lhe e saiu ileso (Jó 9:4)? Finalmente, fortaleçam-se no Senhor e no seu forte poder (Efésios 6:10).
A “tentativa cristã de lidar com esse tripé “Deus todo-poderoso”, Deus todo-amoroso” e a “existência do mal”, mostrando que a despeito do mal, Deus continua justo, bom e poderoso foi historicamente denominada Teodiceia que significa a “Justificação de Deus” (do grego theós, Deus e dikê, justiça).
Epicuro de Samos (341 a.C.— 271 a.C) levantou a seguinte questão: Deus deseja prevenir o mal, mas não é capaz? Então não é onipotente. É capaz, mas não deseja? Então é malevolente. É capaz e deseja? Então por que o mal existe? Não é capaz e nem deseja? Então por que lhe chamamos Deus?
Em outras palavras, Epicuro estava dizendo que se o mal existe é porque Deus não é bom ou não é onipotente (todo poderoso). Porque se fosse onipotente destruiria o mal, mas se Deus não aniquila o mal é porque Ele não é bom.
Historicamente, na tentativa de se construir essa explicação que procura manter a justiça de Deus diante do mal, vários tipos básicos de teodiceia foram elaborados. Não temos espaço aqui para abordar cada um delas, mas vou expor três delas de forma resumida.
A teoria do Livre Arbítrio: essa é a posição clássica das religiões monoteístas, ela afirma que Deus permite o mal e o utiliza para fins bons, ou seja, Deus permite o mal para produzir um bem maior.
A teoria Pedagógica: aqui o enfoque é deslocado da origem do mal e é colocado nos possíveis bons resultados da experiência do sofrimento. A ideia é que o sofrimento é indispensável para o processo do amadurecimento humano.
A teoria da negação do mal: essa perspectiva é encontrada em conceitos monistas e panteístas. A tensão entre Deus e o mal é resolvida pela negação do mal. A cosmovisão de Spinoza (1632-1677) por exemplo, afirma que o mundo parece cheio de mal apenas porque é visto de uma perspectiva humana estreita e errônea. Da perspectiva divina o mundo forma um todo necessário e perfeito.
Essas são apenas algumas das principais tentativas de resolver esse dilema. Quem chegou mais perto de solucionar essa questão foi Agostinho de Hipona (354-430), conhecido universalmente como Santo Agostinho, um dos mais importantes teólogos e filósofos dos primeiros anos do cristianismo.
De acordo com Agostinho, Deus criou um mundo bom e que não se encontrava contaminado pelo mal. Portanto, de onde veio o mal? O mal seria a “ausência de Deus”, ou seja, aonde não há Deus, habita o mal, assim como em um quarto escuro que não há luz habita as trevas.
De acordo com a tradição Cristã, o primeiro ser a se “esvaziar” de Deus e permitir que o mal tomasse sua existência foi Satanás. Agostinho, portanto, apontou a tentação de Satanás como origem do mal, por meio da qual Satanás seduziu Adão e Eva a desobedecer ao criador. Quanto a esse aspecto, Agostinho estabelece que o mal seja uma consequência direta do mau uso da liberdade humana. Deus havia criado a humanidade com liberdade para escolher entre o bem e o mal. Lamentavelmente, a humanidade optou pelo mal, como resultado disso, o mundo encontra-se corrompido pelo mal.
Mas ainda permanece a questão, por que Deus não destrói o mal?
Gosto da resposta que C.S. Lewis, importante pensador cristão do séc. XX deu a um repórter. O repórter perguntou a Lewis: por que Deus não destrói o mal? Sabiamente C.S. Lewis respondeu: e Ele iria começar por quem?
Na resposta de Lewis está implícita a ideia de que se Deus decidir aniquilar o mal, Ele teria que exterminar toda a raça humana, pois, todos têm a maldade alojada em seus corações. Como diz a Bíblia "Não há nenhum justo, nem um sequer; não há ninguém que entenda, ninguém que busque a Deus. Todos se desviaram, tornaram-se juntamente inúteis; não há ninguém que faça o bem, não há nem um sequer" (Romanos 3:10-12).
Ao invés de destruir o mal e aniquilar aquele que pratica a maldade, Deus decidiu salvar os pecadores. Sendo assim, essa permanece sendo uma questão complexa, mas podemos afirmar que Deus permite o mal e o utiliza para fins bons, e Deus permite o mal para produzir um bem maior, ou seja, a salvação de muitos. Por isso, vivemos pela fé e sempre na esperança.
Fonte: Jornal Noroeste